(Soneto com versos decassilábicos com acentuações nas 3.ª, 6.ª e 10.ª sílabas métricas de cada verso.)
Desengane-se aquele que bem pensa
imortal alma haver o peito humano.
Não há Deus neste mundo e só no engano
do Viver é que existe uma tal crença.
Não se iluda o mortal, não se convença
do Morrer, que a nós chega tão ufano,
que não venha e não leve o peito insano
na razão que à Razão mais põe detença.
Vais morrer, como eu vou, e serás pó
sem de ti restar vã recordação
a não ser na memória de quem vive.
Quando a Morte da Vida esse teu nó
te cortar, Deus verás nessa ilusão
que em meu peito a chorar eu nunca tive.